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TER VEZ E VOZ...


Tenho refletido em meu estágio sobre as várias facetas de nossa rotina em sala de aula. Então tenho percebido que os momentos de conversa com as crianças na rodinha se estendeu por um longo tempo, uma vez que as crianças estão mais interessadas e participativas. Então tenho optado em dar espaço as suas colocações.

Vejo que este momento de interação, de diálogo e escuta das crianças, tem se mostrado um rico espaço de trocas e aprendizagens. Encontramos nas palavras de Cuberes (2002: 67) o sentido desta premissa, quando diz:

“As crianças precisam de oportunidades para escolher os materiais ou os caminhos para fazer novas descobertas (...) É importante, então, o acompanhamento, a observação e a escuta do que as crianças fazem, dizem, pensam, seja para estimulá-las, para reorientá-las ou para prever situações de aprendizagens novas e mais complexas”.

Esta postura que venho desenvolvendo de escuta e de instigadora vem modificando o clima de nossa sala de aula. Pois durante as atividades realizadas em nossa rotina, tenho notado uma significativa “agitação no ar”. As crianças estão mais falantes, mais interativas, participativas, mas ao mesmo tempo mais ruidosas. Minhas turmas sempre apresentam esta característica. Muito falantes!!! E penso que esteja aqui meu conflito profissional. Deixar falar? Tolher suas colocações para evitar o barulho? Instituir momentos de conversas? ...

Temos muitas estratégias para manter os alunos calados, mas para que serve este silêncio? Como conhecê-los sem deixar que se expressem? Este é sem dúvida um dilema que enfrento quando estou em sala de aula. Qual é o limiar entre a liberdade de expressão e participação e o limite para não gerar a desorganização?

Percebo que os alunos trazem muitas características de seu educador. Pois a forma com que lido com eles, a maneira com que promovo questões para pensarem e se colocarem, as interações, as atividades, vão dando o tom a turma da maneira como eles vão transitar e interagir neste espaço. São mensagens que defino como “subliminares”, que vão sendo construídas a partir do ambiente da sala de aula, das proposições que fazemos com as crianças, dos fazeres, enfim, do todo que compõe as relações e o espaço pedagógico.

Oliveira (1999: 66) nos fala que:

“O ambiente da creche deve ser rico de experiências para a exploração ativa, compartilhadas por crianças e adultos, onde as relações sociais estabelecem o diálogo como forma de construção de conhecimento”. E a autora vai além, quando afirma que o pensamento da criança vai paulatinamente tornando-se mais complexo, na medida em que a criança estabelece interações com o meio em que está inserida, e com isto vai ampliando seus recursos de linguagem e de coordenação de suas ações com as de seus parceiros.

Portanto, quando em nosso planejamento fomentamos atitudes de participação, vemos que nossa sala de aula se transforma. Ela fica cheia de idéias, criatividade e vai se construindo um espaço coletivo de troca, de parceria, de autonomia, e de muitos ruídos, é claro. Sim, ruídos que denota um estar ativo, estar atuante. Mas como lidar com estes ruídos? Como colocar limites sem impingir a participação?

Lenice Frazatto (et ali Rossetti, 1998: 94) nos coloca que é necessário trabalhar a questão da disciplina com crianças em idade pré escolar, mas que é preciso que tenhamos consciência de sua idade e de suas capacidades, e com isto, repensar a forma de organizar nossas atividades para que as crianças tenham maior participação e mais atenção. E acrescenta: “Trabalhar regras é mais importante do que ter uma classe quietinha”.

Com isto, penso que é preciso adequar o planejamento das atividades e ir paulatinamente construindo coletivamente regras de boa convivência, mostrando a criança, formas de ordenar este espaço coletivo para que todos possam se colocar e ser respeitado em suas idéias, em sua vez de falar. Este aprendizado não acontece de pronto, e em alguns casos leva muitas vezes uma vida inteira, e vai exigir do adulto (educador/pais, outros), constância e muita paciência, até que haja a internalização da regra. Esta aprendizagem, tão importante, certamente irá contribuir para a formação de um sujeito capaz de respeitar o outro, e de estabelecer relações saudáveis de convivência social e cidadã.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Cuberes, Maria Teresa Gonzáles (1997). Entre as fraudas e as letras: contribuições à educação infantil, porto Alegre: Artmed, 67.

Frazatto, Lenice, “Pensando a disciplina”, in Rossetti-Ferreira, Maria Clotilde, orgs. (1998), “Os Fazeres na educação infantil”, São Paulo: Cortez, 168.


Oliveira, Zilma de Moraes. et al, Creches: Crianças faz de conta & Cia (1999), Petrópolis: Vozes, 66.

1 Response to "TER VEZ E VOZ..."

  1. Patrícia_Tutora PEAD says:
    1 de junho de 2010 às 17:42

    Olá querida Neila,

    Muito boa sua postagem, como resposta deixo a você essa pequena mensagem:

    Ser professor é...

    "Questionar a própria prática, buscar uma melhor qualidade de vida, enriquecer o conhecimento cotidiano, assumir a responsabilidade social da educação, dialogar com a incerteza e aceitar que é preciso sempre aprender, ou seja, ser um inovador." Délcia Enricone

    Abraços

    Patrícia