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EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ !



Esta semana foi nos pedido refletir sobre o "Ensaio de Adorno", na interdisciplina de Filosofia. O texto, uma leitura um tanto difícil, mas que nos remete a várias reflexões. Nele temos inevitavelmente de analisar suas causas, suas origens, mas sobretudo, sua finalidade.

Passo agora a socializar minhas reflexões acerca do que li relacionando com educação, civilização e barbárie...

Iniciar com esta frase, que destaco do texto, se faz necessário... “Para a educação, a exigência que Auschwitz não se repita é primordial”.
O que aconteceu em Auschwitz, foi a personificação da barbárie e da prepotência de uma raça sobre outra. E sabemos que para que isto tudo tenha acontecido, nas proporções como foi, a educação foi a fonte que viabilizou esta triste passagem que marcou a raça Humana.
Vale lembrar que após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha sentia-se “excluída do mundo”, a partir daí, para sair desta condição de exclusão, e incutir numa geração que foi rechaçada, a idéia de que o mundo estava errado e que eles sim eram os melhores, mais inteligentes, mais capazes, e no ápice da inconsciência, que pertenciam a uma “Raça Pura”, foi um passo. E qual seria o lugar onde esta idéia de soberania poderia ser forjada? A Escola.
Não existe erro, trabalhar as crianças desde a primeira infância foi/é o instrumento mais eficaz de formação de um sujeito. E o que aconteceu em Auschwitz é prova disto. Voltar a este estado de coisas é possível, pois como diz o próprio texto, “Auschwitz é a própria recaída; a barbárie subsistirá enquanto as condições que produziram aquela recaída substancialmente perdurarem”. Hoje continuamos a ver a exclusão acontecer diante de nossos olhos, tendo como foco o desrespeito a diversidade, o sentimento de superioridade racial, entre outros preconceitos, de maneira muitas vezes veladas, ainda serem vivenciados. Enquanto a sociedade que está ai, permanecer com a ideologia capitalista e seus pressupostos, Auschwitz , sim, é possível de acontecer novamente.
Pois vemos nossa sociedade ainda ser formada dentro de valores excludentes, o Ter se sobressaindo ao Ser; raças produzindo falsa superioridade; marginalização dos que, a eles apenas restaram apreciar os que esbanjam “poder” e dinheiro; padronização da vida; de costumes; de como vestir; com quem andar; enfim, dita padrões de comportamentos. E a conseqüência disto, é a alienação, que escraviza e que remete a alguns a margem, a se sentirem fora do “jogo”. A falta de consciência dos homens, os deixam suscetíveis a se tornarem instrumentos de manobra, na mão daqueles que desejam estar no poder. Com isto, ao retornar ao texto, podemos ter a certeza de que o fascismo, não teve a ver com razões psicológicas, mas com questões sociais de exclusão.
Ao trazer para o contexto da educação, percebemos a mesma paridade ideológica, aplicada ainda hoje em nossas escolas, a qual Paulo Freire denomina de Educação Bancária. Esta tem em sua constituição o controle, o condicionamento, que ressalta a reprodução, a não reflexão, o automatismo. Isto tudo, está a serviço da manutenção do contexto (social, político) que oprime e que emana como mensagem, a impossibilidade da transformação, ou seja, o sujeito não se vê capaz de mudar, não vê perspectivas. Ao impedir a criatividade, a reflexão e a crítica do sujeito, estamos inevitavelmente negando a condição de existir enquanto ser. Esta é a educação que aprisiona, que escraviza. A educação libertadora, como aponta Paulo Freire, trabalha com o oposto, com a liberdade, com o respeito as diferentes saberes, e sobretudo, com sua ação no mundo. Somente mudaremos esta sociedade quando a educação estiver verdadeiramente comprometida com a formação de cidadãos (sujeitos pensantes, críticos), como agentes de mudança e como protagonistas da história.
Tenho convicção de que, a educação apresenta um papel fundamental na ruptura desta estrutura, pois deve servir para a busca de uma consciência reflexiva crítica, onde a autonomia no pensar fará com que os sujeitos possam por si só avaliar e escolher o que entendem como certo e errado. Trabalhar para que a liberdade de ser e de estar, possa constituir-se em um direito a ser vivido. E este trabalho deve começar desde cedo, lá na educação infantil, para que a criança possa crescer com o ideal de igualdade arraigado em sua consciência, para que possamos abolir, desta sociedade, o preconceito contra todos que por hora são tachados de “diferentes”. Onde não mais haja segregação de qualquer ordem, onde o respeito ao ser humano esteja acima de qualquer ideologia.

1 Response to "EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ !"

  1. mauranunes.com says:
    16 de junho de 2009 às 19:51

    Neila, excelente texto que produziste! Escreves de forma lúcida, crítica e reflexiva, deixando claras as tuas idéias a partir das leituras. De certa forma, Auschwitz ainda está presente na sociedade atual, quando o diferente (o que é o diferente?)é discriminado, ou é alvo de agressão (moradores de rua, pessoas simples que esperam sua condução após um dia de trabalho...). É sim na educação infantil que tudo tem início, daí nossa responsabilidade, não é mesmo! Bjs, Maura - tutora do SI