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*APRENDIZAGEM AMOROSA*

Maturana é apaixonante!!!
Ele fala de sensibilidade, de respeito, de construção de relações amorosas, numa interação com o outro ao qual influencia e sofre influência...Tudo isto dentro do universo escolar! É maravilhoso mesmo pensar as relações de aprendizagens banhadas nesta perspectiva..
Mas ao olhar para a Escola hoje, sinto um pouco de tristeza...
Não vemos mais sorrisos, alegria, respeito... Vemos correria, gritos, agressões, estas não precisam ser físicas, mas verbais ou até de expressões corporais de aversão ao outro.
E esta é a realidade oposta a que Maturana fala. De um universo de aprendizagens amorosas... Nossa, quanta diferença!!!! Percebemos muitos alunos envoltos em medo, em desmotivação, em rebeldia...E então me pego a pensar o que Maturana fala sobre a aprendizagem e o acoplamento estrutural. Onde as relações de interação farão toda a diferença, pois o aprender é mais do que captar algo externo, é estar em interação, numa sintonia de troca, onde um se funde ao outro, e com isto, cada um passa a carregar em si um pouco um do outro , o que Michel Serres chama de outramento. Onde a aprendizagem não se dá por determinação do meio, mas sim pelo sentido que isto se dá ao indivíduo, de como ele toca e é tocado pelo outro, e dependendo das circunstâncias deste acoplamento, ou seja, a maneira como interage com o meio, poderá desenvolver uma nova imagem do mundo a partir disto,ou melhor, construir suas aprendizagens!
Creio que a partir das reflexões feitas anteriormente, sob o olhar de Maturana, pouco podemos inferir sobre as reais aprendizagens hoje em nossas escolas, mas uma vez que em um ambiente sem atrativos (o uso do quadro e do giz como únicos recursos), com sujeitos desmotivados, desinteressados e com uma interação hostil, é possível compreender o baixo índice de aproveitamento destes alunos e de reprovação, já que este sistema atual ainda preconiza as provas/notas, como o principal instrumento de avaliação!

LETRAMENTO EM QUESTÃO...


Ao ler o texto, Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola, de KLEIMAN, dentro da Interdisciplina de Linguagem e Educação, várias reflexões sobre a Escola, se faz necessário.

A Escola hoje se apresenta, como uma importante agência de letramento, que deve ter em seu compromisso a transformação social. Mas o que vemos hoje é uma Escola distanciada deste compromisso, voltada muitas vezes apenas para o letramento escolar, mas para apenas uma face do letramento, a alfabetização, com o foco na aquisição do código alfabético, em detrimento, do sentido do letramento como prática social, ao qual a apropriação da escrita está comprometida com o desenvolvimento de uma visão crítica da realidade e de um resgate da cidadania destes grupos. O que vemos nas Escolas, é realmente um modelo autônomo de letramento que entende este processo de aquisição da escrita como algo neutro, sem implicações sociais, políticas e econômicas. A Escola trabalhando numa lógica voltada para capacitar sujeitos para interpretar, ler e escrever textos sem vínculos com a realidade a que pertencem, e por tanto, não empenhada com o pensamento crítico, com a autonomia dos sujeitos, e por consguinte, com a transformação social.

Vejo que a forma quase que automática de alfabetizar, o desejo dos educadores de fazer com que os alunos aprendam o código alfabético, distancia sobremaneira do real sentido do letramento como instrumento de formação crítica dos sujeitos, pois a forma com que está sendo usado, só reforça a manutenção dos valores desta sociedade.

O letramento não é neutro como pensávamos, tem um cunho ideológico muito forte, e por isso a Escola precisa e deve estar ciente desta influência, e lutar para contrapor as forças alienantes que está intrínsecas nestas práticas já historicamente “naturalizadas”. E para isto penso que o caminho é valorizar a realidade do aluno, como fonte inspiradora da aquisição deste tão importante código, que ao meu ver tem sentido de libertação!!!

Para encerrar trago uma frase de Emília Ferreiro, que nos faz pensar exatamente no sentido da escrita, onde diz: “A escrita é importante na escola, porque é importante fora dela e não o contrário”.

Creio que isto não nos deixa dúvidas...

*PENSANDO E RE PENSANDO A AUTONOMIA*...



Ao ler o texto APRENDER COM OS OUTROS OU O ESTATUTO DO OUTRO NA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA, deparei-me com algo que muito me intriga. A questão da construção da AUTONOMIA. Piaget fala que para chegar num estado autônomo a criança passa pela anomia (onde o sentido moral ainda não está definido, as regras são seguidas guiadas pelo hábito ou dever) passando para heteronomia (as regras não são construídas, mas impostas) para no final chegar na tão falada autonomia.

Mas o que vem a ser AUTONOMIA?
Com base em Piaget, resumidamente, a autonomia é o último estágio do desenvolvimento moral da criança, neste as regras são compreendidas e aceitas, uma vez que a criança passa a entendê-las como construção coletiva, conseguindo vislumbrar sua atuação neste processo.

Ao pensar sobre isto, vemos durante todo este processo a importância da convivência com o outro. No primeiro, anomia, o outro se apresenta como um modelo a ser seguido; no segundo, a heteronomia, alguém que dita as regras (imutáveis) que devem ser seguidas, e por fim, a autonomia, o outro se apresenta como partícipe de uma construção, onde as regras podem ser mudadas, mas deve estar embasadas no coletivo, no sentido de colaboração, de justo, de verdadeiro, mas para isto, é imprescindível que o sujeito precise sair de si mesmo e colocar-se no lugar do outro....
O que penso sobre isto enquanto educadora....

Esta caminhada rumo a construção da autonomia não é uma tarefa fácil, pois requer tempo e amadurecimento. Mas também creio que deva ter uma intencionalidade por parte dos educadores, pois tal como me referi, este processo de aquisição é uma construção, e por tanto, deve ser paulatinamente trabalhada. Se a criança não sentir um ambiente propício para a troca, para o diálogo... Dificilmente chegará a ser um sujeito que pense e aja por si só!

Sendo assim, penso que é preciso instigar as crianças a pensar, dar sua opinião, argumentar, compreender as regras e a cada etapa, através de sua reflexão/ação, ir reescrevendo o que está posto, com responsabilidade e justiça.

*DIDÁTICA TEM PAI ?*


Sim, esta semana tive o prazer de conhecer João Amos Komensky, (1592- 1670) mais conhecido por Comenio, chamado o Pai da Didática. Comenio era um teólogo, mas era sobre tudo um estudioso sobre educação que se preocupava muito com a forma de ensinar as pessoas, ou seja, o método de ensino! Este interesse pode ser visto já no prefácio de seu livro mais importante, Didática Magna (1638), onde diz: "A proa e a popa da nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais." As obras de Comênio, são consideradas um marco de transição entre a Idade Média e a Moderna.
Disto podemos concluir que a preocupação com o método de ensinar percorre longas datas. Comênio, há mais de 300 anos atrás já percebia a necessidade de uma mudança na educação, pois cada vez mais alunos apenas eram capazes de reproduzir ao invés de criar, de ouvir ao invés de falar, de concordar ao invés de questionar... Foi ele que mudou alguns parâmetros da pedagogia, pois acreditava que deveria estar voltada para o aluno; na figura do professor como responsável em adequar seu trabalho a partir das necessidades e características de seus alunos; e na escola como um espaço prazeroso, de descobertas e experiências, rico em interações, onde o lúdico e o diálogo professor x aluno estivessem presentes. Estes pressupostos que Comenio apontava, ainda hoje lutamos para desenvolver dentro de nossas escolas, pois enquanto educadores conscientes que somos, vemos a necessidade da mudança e transformação desta sociedade, injusta, excludente e perversa, em que vivemos, e esta mudança passa pela mudança de paradigmas. Creio que a Escola deva olhar para si e repensar o papel que tem desempenhado na sua caminhada enquanto espaço de formação e de transformação social. Vejo que precisamos urgentemente pensar na formação de nossos alunos e ver se realmente estamos ajudando, através das aprendizagens que proporcionamos, que estes alunos consigam enfrentar os desafios dos novos tempos, com autonomia, criatividade, ética e competência. Pois precisarão para isto, estarem capacitados a pensar, a compreender, a interpretar, a teorizar, a argumentar, e sobretudo, ter atitude reativa frente ao mundo.